A redação de um projeto curricular de grupo é uma (das muitas) funções do educador, que deve ser elaborado tendo por base um processo de observação atenta e escuta ativa, para que tenhamos um conhecimento das crianças o mais sustentado possível. Este é um documento que deve espelhar a realidade do grupo de crianças com o qual trabalhamos. A não ser que seja um grupo que acompanha o educador do ano anterior, sobre o qual já existe algum conhecimento prévio e, portanto, alguns pontos do projeto poderão ser mais fáceis de escrever, é essencial que se conheça o grupo e se faça um diagnóstico antes de elaborar um projeto, porque os projetos não podem surgir no vazio nem partir de cenários hipotéticos. Um projeto é uma resposta e, por isso, não podemos elaborá-lo sem um conhecimento prévio do contexto em que o mesmo irá ser implementado.

Há três variáveis a ter em consideração na elaboração de um projeto curricular: a legislação, o saber pedagógico e o conhecimento sobre as crianças/contexto, que estabelecem uma relação de interdependência.

A legislação permite-nos perceber o que é um projeto curricular e definir aquilo que é importante e deve constar no mesmo. Contudo, o conteúdo que encontramos num projeto está dependente daquilo que somos, sabemos e fazemos enquanto profissionais especializados em educação de infância. O conhecimento pedagógico que advém da nossa prática permite-nos definir facilmente os nossos credos pedagógicos e fundamentar o nosso modo de fazer pedagogia.

É evidente que com a formação e a experiência de cada um, seja possível definir previamente objetivos gerais para o ano letivo, tendo por base as competências e aprendizagens que consideramos essenciais. A experiência que adquirimos na nossa ação enquanto educadores, leva-nos a acreditar em determinados princípios da pedagogia para a infância e esses não mudarão, independentemente do contexto e do grupo: a agência da criança; a promoção da autonomia e da responsabilidade; a estimulação do pensamento crítico e da criatividade; a organização de ambientes de aprendizagem ativa, entre outros igualmente importantes.

Quanto a isto, há um trabalho prévio que, de facto, poderá ser feito mesmo antes do arranque do ano letivo. No entanto, a especificidade do trabalho em Educação de Infância não permite que se tracem objetivos específicos sem o conhecimento das crianças, na medida em que todo o trabalho a ser desenvolvido com um grupo de crianças deve partir, mais uma vez, do conhecimento sobre ele. A expressão “respeitar os interesses e necessidades das crianças” é real e não pode ser uma frase repetida nos documentos oficiais só porque sim.

Nesta perspetiva, o Projeto Curricular de Grupo é um documento flexível que tem de estar em constante desenvolvimento e atualização. Tal como periodicamente fazemos uma avaliação de cada criança, através de registos de observação que vão sendo feitos, o projeto curricular de grupo deve também ser avaliado e, a partir daí, ajustado e adaptado à realidade emergente. O projeto curricular de grupo é um documento dinâmico e emergente e, como tal, não é possível que o mesmo fique finalizado em setembro, muitas vezes antes do ano letivo começar.